10 dançarinos brasileiros que utilizam ou utilizaram da dança como ferramenta de transformação social.
- Ana Beatriz Buarque
- 28 de abr.
- 11 min de leitura
No dia 29 de abril é celebrado o Dia Internacional da Dança, data escolhida em homenagem ao nascimento de Jean-Georges Noverre, considerado o criador do balé moderno. A dança, além de ser uma arte, pode ser uma poderosa forma de mudar o mundo. Pensando nisso, nós trouxemos 10 dançarinos brasileiros que utilizam ou utilizaram da dança como ferramenta de transformação social. Para saber mais, continue lendo o post de hoje!

Augusto Omolú
Falar sobre a dança afro-brasileira é, inevitavelmente, falar sobre Augusto Omolú. Bailarino, coreógrafo e ator baiano, ele dedicou sua vida às tradições afrodescendentes, levando para os palcos do Brasil e do mundo a força simbólica dos orixás e a beleza dos movimentos que nascem da ancestralidade.
Sua trajetória começou na década de 1970, em Salvador, onde passou por instituições e grupos importantes como o Balé Folclórico do Sesc, o grupo Viva Bahia e a Escola de Dança do Teatro Castro Alves. Com o tempo, seu talento e dedicação ultrapassaram fronteiras. Omolú fez parte do Odin Teatret, na Dinamarca, onde aprofundou sua pesquisa sobre a dramaturgia do movimento e o corpo ancestral.
Ele também foi mestre da ISTA (International School of Theatre Anthropology), além de ministrar seminários e oficinas internacionais sobre a Dança dos Orixás, uma de suas maiores especialidades. Em Salvador, seguiu compartilhando seu saber como professor da Escola de Dança da Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB), coordenador artístico do Projeto Axé e fundador da Instituição Social IAÔ, voltada à inclusão e ao fortalecimento da identidade afro-brasileira.
Seu trabalho se destacou por unir arte e resistência, enfrentando o racismo com sensibilidade e consciência.
Infelizmente, Augusto Omolú foi assassinado em 2013, fato que causou grande comoção e gerou protestos da comunidade artística e cultural da Bahia. Ainda assim, seu legado permanece vivo, inspirando artistas, pesquisadores e todos que reconhecem na cultura afro-brasileira uma fonte de conhecimento, beleza e transformação.
Deborah Colker
Coreógrafa, diretora e bailarina do Rio de Janeiro, Deborah construiu uma carreira que desafiou os limites do movimento. Com um estilo único, ela criou um vocabulário de dança cheio de ousadia, leveza e precisão, sempre buscando inovar e se reinventar.
Sua jornada ganhou um grande impulso em 1994, quando fundou a Companhia de Dança Deborah Colker. Desde então, seus espetáculos têm encantado públicos no Brasil e no mundo, conquistando prêmios e reconhecimento. Obras como “Velox” e “Rota” já mostravam sua criatividade, mas foi com “Mix” que ela consolidou sua carreira internacionalmente. Nesse espetáculo, que mistura acrobacia, dança e cenografia impressionante, Deborah recebeu o famoso Laurence Olivier Award, um dos prêmios mais prestigiados das artes cênicas.
Em 2009, ela fez história ao se tornar a primeira mulher e a primeira latino-americana a dirigir um espetáculo do Cirque du Soleil: “Ovo”. Esse desafio de trabalhar com a linguagem do circo ampliou ainda mais seu repertório e solidificou sua posição no cenário artístico mundial.
Outro grande marco foi sua participação na cerimônia de abertura das Olimpíadas Rio 2016, onde ela foi responsável pela direção de movimento e coreografou milhares de voluntários, transformando o Maracanã em um palco vibrante de cultura e diversidade. Em 2018, seu espetáculo “Cão Sem Plumas”, inspirado no poema de João Cabral de Melo Neto, lhe rendeu o Prix Benois de la Danse, um dos prêmios mais importantes da dança mundial, mostrando mais uma vez seu talento para unir arte, crítica social e beleza.
Hoje, Deborah Colker é uma das maiores referências da dança contemporânea no Brasil e no mundo. Seu legado está na maneira como ela faz os corpos se expressarem, traduzindo a vida em movimento e sempre buscando novas formas de se reinventar.
Dora Andrade
Dora Andrade é uma das figuras mais influentes no cenário da dança cearense, reconhecida não apenas pela sua habilidade como bailarina e coreógrafa, mas também pelo impacto transformador de seu trabalho na inclusão social. Desde a infância, quando iniciou seus estudos em dança aos 10 anos, Dora seguiu uma trajetória de aprendizado que a levou a se aprofundar em técnicas como ballet clássico, jazz e dança contemporânea. Ao longo dos anos, passou por importantes instituições como o Teatro Guairá, em Curitiba, e o Teatro Nacional de Brasília, onde ampliou seus horizontes e consolidou sua carreira.
Em 1991, Dora fundou a Escola de Desenvolvimento e Integração Social para Crianças e Adolescentes (Edisca), uma organização sem fins lucrativos em Fortaleza. A Edisca utiliza a dança como uma poderosa ferramenta de transformação social, oferecendo a jovens em situação de vulnerabilidade a oportunidade de acesso à arte e ao desenvolvimento pessoal. A escola já impactou a vida de mais de 2.500 crianças e adolescentes, proporcionando um caminho de mudança por meio da educação e da cultura.
Além de seu trabalho como educadora e fundadora da Edisca, Dora é reconhecida mundialmente por seu compromisso com a inclusão social e o empoderamento de meninas e mulheres. Seu trabalho é um exemplo claro de como a dança pode ser uma forma de resistência e de transformação de realidades. Em 2025, em reconhecimento à sua contribuição significativa para a cultura e sociedade cearenses, Dora foi agraciada com a 8ª Medalha Iracema, a maior comenda do Poder Executivo Municipal de Fortaleza.
O legado de Dora Andrade é um reflexo do poder da arte como um instrumento de mudança social. Sua trajetória reafirma a importância de oferecer a todos, especialmente às populações vulneráveis, o acesso à cultura e ao desenvolvimento por meio da dança.
Ingrid Silva
Nascida no Rio de Janeiro, Ingrid Silva é atualmente um dos grandes nomes da dança brasileira no cenário internacional. Criada na comunidade da Mangueira, foi aos oito anos que deu seus primeiros passos na dança, ao ingressar no projeto social “Dançando para não dançar”.
Ingrid conquistou bolsas de estudo em instituições de grande prestígio, como a Escola de Dança Maria Olenewa, ligada ao Theatro Municipal do Rio de Janeiro, e o Centro de Movimento Deborah Colker. Aos 17 anos, foi estagiária do consagrado Grupo Corpo, e, no ano seguinte, embarcou para os Estados Unidos. Lá, integrou o Dance Theatre of Harlem, companhia referência na valorização de bailarinos negros, onde conquistou o posto de primeira bailarina.
Apesar do reconhecimento, Ingrid enfrentou desafios que expõem as desigualdades no universo do ballet clássico. Por anos, precisou pintar suas sapatilhas com base para que combinassem com seu tom de pele, uma prática comum entre bailarinas negras devido à padronização do material em tons claros. Essa realidade a impulsionou a se tornar uma voz ativa pela representatividade na dança.
Fundadora dos projetos “EmpowHer New York” e “Blacks in Ballet”, Ingrid atua promovendo inclusão e visibilidade para mulheres e pessoas negras no meio artístico. Em 2020, seu impacto foi reconhecido mundialmente, sendo eleita como uma das 100 pessoas negras mais influentes do mundo pela organização MIPAD (Most Influential People of African Descent). No mesmo ano, lançou sua autobiografia “A sapatilha que mudou meu mundo”, uma obra que inspira ao narrar sua trajetória com sensibilidade e potência.
Ingrid Silva é mais do que uma bailarina de destaque, é um símbolo de superação, transformação social e resistência através da arte. Seu legado inspira não apenas pela técnica nos palcos, mas pela coragem de redesenhar os contornos da representatividade no ballet.
Ismael Ivo
Ismael Ivo foi um dos maiores nomes da dança contemporânea brasileira e internacional. Nascido na periferia de São Paulo, em 1955, desafiou expectativas e barreiras sociais para construir uma carreira brilhante que atravessou fronteiras e inspirou gerações de artistas.
Seu início foi no Teatro de Dança Galpão e no tradicional Teatro Municipal de São Paulo. Mas foi em 1983, durante uma viagem aos Estados Unidos, que sua trajetória ganhou impulso internacional. Lá, conheceu o lendário coreógrafo Alvin Ailey, que se impressionou com seu trabalho e o convidou para dançar nos EUA. Pouco tempo depois, Ismael seguiu para Viena, onde viria a cofundar um dos festivais de dança mais importantes da Europa: o ImPulsTanz, um espaço inovador e pulsante dedicado à dança contemporânea.
Ismael trabalhou com artistas de peso como Pina Bausch e Marina Abramović, unindo dança, performance e arte contemporânea em uma linguagem própria, marcada pelo corpo como território de expressão política, social e emocional.
Fez história ao se tornar o primeiro estrangeiro e negro a dirigir o prestigioso Teatro Nacional Alemão em Weimar, uma instituição com forte simbolismo na cultura europeia. Também comandou a área de dança da Bienal de Veneza, outro feito inédito para um brasileiro.
Em 2017, após décadas no exterior, retornou ao Brasil como diretor artístico do Balé da Cidade de São Paulo. Sua missão era abrir caminhos, ampliar repertórios e fomentar novas possibilidades para a dança brasileira. Mesmo com a carreira internacional consolidada, nunca se afastou das raízes e fazia questão de valorizar e promover talentos locais.
Ismael Ivo faleceu em abril de 2021, vítima da Covid-19, aos 66 anos. Mas seu legado permanece vivo nos palcos, nos corpos que dançam, nas ideias que movimentam o mundo da arte. Um artista que acreditava no poder transformador da dança e que fez do próprio corpo um manifesto poético, político e profundo.
Ivaldo Bertazzo
Coreógrafo, educador e terapeuta do movimento, Ivaldo dedicou sua vida a transformar corpos e realidades por meio do movimento.
Nascido em São Paulo, Bertazzo começou sua trajetória como bailarino e mergulhou em diferentes saberes: dança clássica e moderna, fisioterapia, yoga, técnicas orientais de postura e muito mais. Com esse vasto repertório, criou um método próprio de reeducação do movimento, que vai muito além da dança. Seu foco é a organização corporal, o equilíbrio postural, a coordenação e, principalmente, a consciência sobre o corpo e seus padrões.
Mas o que realmente diferencia o trabalho de Ivaldo é seu compromisso com a inclusão. No seu Centro de Reeducação do Movimento, em São Paulo, ele abriu as portas para jovens das periferias e desenvolveu espetáculos com esses alunos, integrando arte, cidadania e saúde. Seus projetos sociais mostraram que qualquer corpo pode dançar, aprender, se expressar e que o movimento é também uma ferramenta de transformação social.
Além da prática, Bertazzo compartilha seus conhecimentos em livros e palestras, como “Cérebro Ativo Corpo Vivo”, nos quais propõe reflexões importantes sobre o corpo contemporâneo, muitas vezes desconectado, tenso ou limitado por padrões sociais e culturais.
Ele recebeu diversos prêmios e títulos, entre eles o de doutor honoris causa pela Universidade Federal da Bahia. Sua trajetória é inspiração para artistas, educadores, terapeutas e para todos que acreditam no poder do corpo como ferramenta de expressão e mudança.
Mercedes Baptista
Mercedes foi a primeira mulher negra a integrar o corpo de baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, na década de 1940. Embora sua entrada tenha sido um marco histórico, o ambiente não era tão acolhedor. Sofreu preconceito, foi isolada, impedida de dançar em algumas apresentações, mas jamais silenciada. Seu talento e sua persistência foram ferramentas de resistência.
Na busca por mais conhecimento e liberdade artística, Mercedes foi aos Estados Unidos estudar com Katherine Dunham, antropóloga, coreógrafa e referência mundial em danças afrodescendentes. Com Dunham, ela aprofundou seu entendimento sobre os movimentos tradicionais de matriz africana e as possibilidades de traduzir essa ancestralidade em linguagem cênica.
Ao retornar ao Brasil, fundou o Ballet Folclórico Mercedes Baptista, companhia que unia a técnica do ballet clássico com os gestos, ritmos e simbolismos das religiões e tradições africanas, como o candomblé. Foi uma das primeiras artistas a colocar o corpo negro como protagonista da cena, ressignificando o que era considerado “folclore” com dignidade, sofisticação e potência artística.
Além dos palcos, Mercedes também fez história nas ruas. Foi fundamental na introdução da dança coreografada nas escolas de samba, especialmente no GRES Acadêmicos do Salgueiro. Seu olhar técnico e criativo transformou a forma como o samba era apresentado visualmente, influenciando gerações de passistas e coreógrafos do carnaval carioca.
Mercedes Baptista faleceu em 2014, mas seu legado permanece vivo. Sua trajetória abriu portas, inspirou artistas negros e transformou a dança brasileira ao mostrar que corpo, cultura e ancestralidade caminham juntos. Hoje, seu nome é celebrado como símbolo de resistência, arte e pertencimento.
Nelma Darzi
Fundadora da Escola de Dança Petite Danse, no Rio de Janeiro, Nelma Darzi tem uma carreira marcada pelo ensino da dança com qualidade e pelo compromisso com a inclusão social.
Começou dando aulas na casa dos pais, na Tijuca, e em 1988 fundou a Petite Danse. A escola cresceu e, em 1997, foi autorizada pelo Conselho Estadual de Educação a oferecer o Curso Técnico em Dança com foco em Bailarino de Corpo de Baile.
Além da formação técnica, Nelma criou em 1999 o projeto social Dançar a Vida, que oferece bolsas de estudo para crianças e jovens de comunidades carentes. O projeto revelou talentos como Mayara Magri, hoje destaque internacional. Em 2008, ela também criou a Companhia Jovem Dançar a Vida, para dar experiência de palco e estágio profissional a esses alunos.
A formação de Nelma inclui licenciatura em Educação Física, pós-graduação em áreas como psicomotricidade e didática do ensino da dança infanto-juvenil, além de estudos com grandes nomes da metodologia cubana e russa.
Pelo impacto do seu trabalho, ela já recebeu prêmios importantes, como o Prêmio Claudia (categoria Cultura), foi eleita “Carioca Nota 10” pela Veja Rio e teve seu projeto reconhecido como de utilidade pública.
Nelma Darzi é um nome que representa o compromisso com a dança e com o futuro de quem sonha viver dela.
Thereza Aguilar
Thereza Aguilar é o nome por trás de uma das iniciativas mais transformadoras da dança no Brasil. Ela trilhou um caminho de excelência no ballet clássico, com formação na Alemanha e em Cuba. Aos 17 anos, conquistou uma bolsa de estudos por indicação da renomada Tatiana Leskova, o que lhe permitiu estudar na Staatliche Ballettschule Berlin e, posteriormente, aprofundar sua técnica com a escola do Ballet Nacional de Cuba, uma das mais respeitadas do mundo.
Mas foi no Brasil que Thereza decidiu plantar suas sementes mais importantes. Fundadora do projeto “Dançando Para Não Dançar”, ela criou uma proposta que alia a disciplina do ballet à potência da inclusão social. O projeto nasceu no morro do Cantagalo, Pavão-Pavãozinho, e hoje impacta cerca de 800 jovens em 16 comunidades do Rio de Janeiro, oferecendo aulas de dança e atividades socioeducativas.
Inspirado no modelo cubano, o projeto já revelou talentos como Ingrid Silva, que ganhou projeção internacional, e conta com o apoio de nomes como Ana Botafogo e o cineasta Walter Salles.
Viviane Macedo
Viviane Macedo é uma artista e ativista brasileira que tem se destacado por seu trabalho na promoção da inclusão por meio da dança esportiva em cadeira de rodas. Ela iniciou sua trajetória na dança no final dos anos 1990, desenvolvendo uma carreira marcada por projetos culturais, festivais artísticos e iniciativas de formação no Brasil e no exterior, sempre com foco na arte inclusiva.
Ao longo de sua carreira, Viviane colaborou com diversas organizações, como o Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência (IBDD), a Confederação de Dança Esportiva em Cadeira de Rodas e o Conselho Brasileiro Paradança. Também estabeleceu parcerias com renomados profissionais da dança de salão brasileira, como Carlinhos de Jesus e Jaime Arôxa, e integrou a Escola Carioca de Dança.

Em 2005, Viviane fez história ao se tornar a primeira porta-bandeira usuária de cadeira de rodas a desfilar no bloco “Senta que eu Empurro”. Participou do projeto “Sem Limites” da ONG Crescer e Viver, atuando como artista de circo e consultora em acessibilidade. Nesse contexto, contribuiu para a seleção de artistas no espetáculo “Belonging”, uma coprodução com a organização britânica Graeae Theatre Company, o Circo Crescer e Viver e o British Council Brasil.
Em 2010, fundou a Cia Viviane Macedo, oferecendo aulas de dança acessível a pessoas com deficiência a partir dos sete anos de idade. Com o apoio da empresa Gerdau, a companhia foi oficialmente estabelecida em 2012, promovendo inclusão e desenvolvimento artístico em um espaço adaptado.
Viviane é pentacampeã brasileira de dança esportiva em cadeira de rodas e alcançou a 20ª colocação no ranking mundial, participando de competições na Alemanha e na Bielorrússia. Entre suas apresentações notáveis, destacam-se a performance para a Rainha Beatrix da Holanda nas comemorações de 50 anos da UNICEF e a representação do Brasil na Casa Brasil durante os Jogos Paraolímpicos de Sydney, em 2000.
Atualmente residindo em Toronto, Canadá, Viviane continua sua atuação como artista, consultora e influenciadora digital, compartilhando reflexões sobre inclusão, acessibilidade e experiências como mulher com deficiência vivendo no exterior. Por meio de suas plataformas, ela promove mudanças culturais e sociais através da arte e da representatividade.
E esse foi o post de hoje!
Esperamos que tenham gostado e que, nesse Dia Internacional da Dança, não só celebremos os dançarinos, mas também reflitamos sobre o poder que a dança tem de transformar realidades e como sua valorização é essencial para que isso aconteça.
Até a próxima! 🩰🩷
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