20 de Novembro: Qual é o papel das Escolas de Dança na Luta Antirracista?
- Nayara Calixto

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“Existe uma história do povo negro sem o Brasil; mas não existe uma história do Brasil sem o povo negro” – Januário Garcia
No Brasil, o Dia Nacional da Consciência Negra é celebrado em 20 de novembro. Essa data foi escolhida por ser o aniversário da morte de Zumbi dos Palmares, um dos maiores símbolos representativos da luta da população afro-brasileira. A data é importante por ressaltar a contribuição da população negra na construção do País, bem como para refletirmos sobre as consequências do passado escravocrata, levantando discussões sobre o racismo estrutural, a desigualdade social e a urgência de ações antirracistas que buscam a equidade racial.
E o que as Escolas de Dança têm a ver com essa discussão?
Por meio da formação artística, escolas de dança contribuem para a formação cidadã de seus estudantes. Logo, essas instituições têm um papel importante no auxílio de uma formação artística e cidadã de seus alunos(as) em relação à cultura e história afro-brasileira. O antirracismo é um compromisso social que todas as instituições, sejam públicas ou privadas, devem assumir. Também vale lembrar que, apesar do dia 20 de novembro ser uma data específica, o antirracismo deve ser uma ação contínua.
Por meio de um ensino da dança antirracista, podemos desconstruir preconceitos e construir uma sociedade mais justa e igualitária. Dessa forma, o ensino da Dança assume-se como uma ferramenta de transformação social!
Como as Escolas de Dança podem contribuir para a equidade racial e formação antirracista dos seus estudantes?
Pode parecer algo complexo, mas assumir uma posição antirracista é simples. Segue abaixo algumas ações que podem ser realizadas:
Apresentar referências negras para os bailarinos - Por exemplo: levar histórias de profissionais afro-brasileiros da dança.
Criar ações afirmativas para o ingresso de estudantes negros - Sabemos que a Dança ainda é muito elitizada no nosso país e, por conta de uma construção histórica, pessoas negras são maioria em situação de vulnerabilidade social. À vista disso, criar ações que facilitam o ingresso e permanência de alunos(as) negros(as) é algo muito importante.
Contratar professores(as) negros(as) - E não só de danças negras, mas, por exemplo, professores negros de balé clássico. Há diversos profissionais negros incríveis que, infelizmente, ainda na atualidade, não têm oportunidade de ingressar no mercado de trabalho. Essa problemática se agrava se analisarmos especificamente o balé clássico, uma dança que foi institucionalizada no Brasil e ainda tende a excluir corpos negros.
Prezar por uma formação docente antirracista - Como já discutido por muitos pesquisadores das relações étnico-raciais, o racismo no Brasil é estrutural, isto é, o racismo está na organização política e econômica da sociedade brasileira. Assim, o racismo nas relações interpessoais e nas instituições é fruto de algo mais profundo, construído historicamente. Nesse sentido, o racismo também pode estar presente nas ideias que temos sobre Dança e ensino da dança. Portanto, prezar por uma formação de professores antirracista é algo urgente no campo da dança, porque, se temos professores antirracistas, teremos um ensino da dança antirracista.
Semana das Danças Negras Balleto
Nesse ano de 2025, a Balleto preparou uma semana especial para os balletianos e público externo que fez parte da 1ª Mostra de Dança: A Semana das Danças Negras. Foram convidados sete profissionais incríveis para ministrar workshops de danças de origem africana, afro-brasileira e afro-norte americana:
“Jongo para Guris” - com o professor Marcos Souza;
Danças Urbanas - com a professora Leandra Leal;
Samba no Pé - com o professor Larissa Cruz;
Jazz - com o professor Antony Zurc;
Sapateado - Julia Gomes;
Dança Afro-Brasileira - com o professor Junior Andrade;
“Bɛnba dɔ̀n: danças ancestrais do Oeste Africano” - com a professora Sabrina Chaves.
A Semana das Danças Negras, que celebrou conjuntamente o Dia Mundial do Hip Hop (12) e Dia Nacional da Consciência Negra (20), buscou proporcionar uma imersão cultural aos Balletianos a partir da aproximação de algumas danças afrodiaspóricas, onde os alunos puderam adquirir novos conhecimentos pelo corpo em movimento.

O contato com danças afrodiaspóricas pode ser uma forma de desconstruir pensamentos racistas e, para alunos negros, pode colaborar na autoestima e no empoderamento, valorizando e celebrando corpos, cultura e dança negras, desafiando modelos de movimento e padrões de beleza eurocêntricos. A Semana das Danças Negras é um exemplo prático de uma ação antirracista que pode ser realizada por escolas de dança no decorrer do ano letivo.

Agradecemos imensamente aos professores dos workshops por compartilharem seus conhecimentos com nossos alunos e por trabalharem a Dança como uma ferramenta pedagógica de conscientização e conhecimento!
"Numa sociedade racista, não basta não ser racista. É necessário ser antirracista” - Angela Davis




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